MITOLOGIAS MUNDIAIS E CONCEITOS

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O Tártaro segundo a mitologia cristã.

Para os antigos cristãos, e mesmo nos dias de hoje, tártaro seria simplesmente sinônimo de inferno.

Na realidade, o inferno cristão foi concebido e imaginado a partir da idéia do tártaro concebida pelos gregos e romanos, mas entre a mitologia cristã e as mitologias clássicas da antiguidade, destacam-se algumas diferenças relevantes:

INFERNO
Assim como o inferno foi concebido a partir da idéia do Tártaro, um lugar de sofrimento eterno para onde se encaminham as almas dos pecadores, o paraíso também foi concebido a partir dos Campos Elíseos, mas enquanto para os gregos o Tártaro e os Campos Elíseos eram apenas diferentes regiões do Mundo dos Mortos, a tradição popular cristã localiza o inferno também nas profundezas da terra, mas o paraíso se localizaria nos céus, e seria a morada de Deus e seus Anjos de luz.

PARAÍSO
Zeus em seu trono no Olimpo
É fácil entender o porque dessa “diferença geográfica”, pois o cristianismo prega o deus único, um deus que representaria a perfeição e as forças do bem.

A idéia que se tem desse Deus porém [segundo a tradição poupular], em parte foi absorvida do idéia que os antigos tinham de Zeus, pelo menos sua aparência, um homem mais velho, de barbas grandes e cabelos grisalhos, mas ainda com o vigor e a força da juventude.  

O Deus cristão em  seu trono nos céus
Zeus morava no Olimpo, na época o ponto mais alto da terra conhecido pelos antigos gregos, juntamente com os outros deuses mais poderosos, conhecidos como os deuses olimpianos, daí, então a idéia cristã de que a morada de Deus fique nas alturas.

Hades era o Deus e o Senhor do mundo dos mortos, para onde se encaminhariam as almas de todos os que morriam, bons ou ruins, apenas a região onde essa alma habitaria seria diferente de acordo com seu próprio merecimento.

Os maus permaneciam no Tártaro, onde suas almas passariam por terrores e castigos horríveis, e os bons eram encaminhados para os Campos Elíseos, onde receberiam a paz eterna.

O diabo cristão
Hades, portanto, enquanto senhor do Mundo dos Mortos, e este localizando-se nas profundezas da terra, pode muito bem ser sincretizado com o Diabo do cristianismo.

Como, então, poderia a imaginação popular dos antigos cristãos conceber que os justos também iriam para as profundezas da terra, se esta seria a morada do demônio e um lugar de expiação?

JARDIM DO EDEN

Muito mais natural acreditar que os “bem-aventurados” fossem recebidos na morada de Deus, ou seja, nas alturas, surgindo assim a idéia de Paraíso [segundo a tradição popoluar, pois o Paraíso original seria o Jardim do Eden, que existiu no começo dos tempos e que foi a morada de Adão e Eva].

Na literatura judaica a palavra tártaro é mencionada uma vez somente, no livro de Enoch, em uma passagem que diz que Uriel é o carcereiro de 200 anjos que pecaram.
Na lietratura judaica, livro de Enoque, o Arcanjo 
Uriel é o carcereiro dos duzentos anjos que 
pecaram e por isso foram lançados ao Tártaro.


No Novo Testamento o substantivo tártaro não é utilizado nenhuma vez, mas em II Pedro 2: 4 aparece o verbo tartaroo (ταρταρόω), cuja tradução seria lançar para o tártaro, e que é uma forma abreviada do verbo grego clássico kata-tartaroo ("jogar para baixo para o tártaro").

Nas traduções ao redor do mundo, porém, este verbo foi normalmente traduzido como lançar ou jogar ao inferno, quando a tradução correta seria ao tártaro, e não ao inferno.

TÁRTARO OU TÁRTARUS



O Tártaro - região do submundo para  onde vão 
as almas dos que merecem ser castigados e 
não tem direito a paz eterna. Ali os condenados 
passam por expiações inimagináveis, castigos 
terríveis, dores, trevas e danações.
Na mitologia grega clássica, abaixo de Urano (céu), Gaia (terra) e Pontus (mar) encontra-se Tártaro, ou Tártarus (do grego Τάρταρος, lugar profundo).

Trata-se de um lugar sombrio, um poço ou um abismo usado como uma masmorra de tormento e sofrimento e que se localiza no submundo, ou seja, nas profundezas da terra.

No Górgias, Platão (c. 400 A.C.) escreveu que almas foram julgadas depois da morte e as que mereciam punição foram enviadas ao Tártaro.

Mas a palavra não se refere somente a um lugar, mas também ao deus que deu origem a ele.

Tártarus, um dos filhos de Khaos, teria 
sido a terceira força a emanar do vazio que 
existiu antesde todas as coisas, portanto, 
é um dos deuses primordiais e existiu 
antes que surgisse a luz e os cosmos.
Tártarus é uma das primeiras criaturas a existir, a emergir do vazio para a existência.

Normalmente aceito como um dos filhos de Khaos, o primeiro de todos os deuses, portanto, da primeira geração dos deuses, o que faz dele um dos deuses primordiais.

Ele existiu antes que surgissem a luz e os Cosmos.

Para o poeta Hesíodo, Tártarus foi a terceira força a emanar do vazio que existiu antes de todas as coisas, logo após o próprio Khaos e Nix, a noite, e imediatamente antes de Gaia, a Terra.

O Tártaro, para os gregos antigos, corresponde ao lugar que o cristianismo chamaria de inferno.

Para lá vão as almas dos que merecem ser castigados e não tem direito a paz eterna.

Os Campos Elíseos é uma outra região do Hades, para lá são
encaminhadas as almas que merecem a paz e o descanso eterno;
Lá elas praticam esportes, jogos, etc. É a merecida paz 
e felicidade eterna dos justos e bem aventurados.
Na antiguidade mais remota, acreditava-se que o Tártaro ficava ainda mais distante e abaixo do Hades, o mundo dos mortos, governado pelo deus Hades (ou Plutão para os romanos), de cujo nome originou-se também o nome do lugar.

Já numa menos antiga concepção, Tártaro é uma das regiões do Hades, que se dividiria em 3 sítios distintos: o Érebus, o Tártaro e os Campos Elíseos.

O Érebus seria a primeira região onde chegariam as almas após a morte.

Ali, à beira do Rio Aqueronte, essas almas ficariam esperando pela barca de Caronte, que os faria atravessar para o outro lado do rio, chegando, então, ao Tártaro.
Caronte e sua barca

Ali no Tártaro essas almas receberiam seu julgamento, os justos e valorosos eram conduzidos aos Campos Elíseos, onde seriam agraciados com a paz eterna e uma “existência” tranqüila na morte.

Os que não eram dignos de serem conduzidos aos Campos Elíseos, deveriam permanecer no Tártaro, que é o lugar das expiações eternas, castigos terríveis, dor, trevas e danações.

Uma muralha separaria a região do Tártaro dos Campos Elíseos, e nos portões dessa muralha Cérberus [ou Cérbero], um enorme cão de três cabeças, monta guarda para impedir que os condenados tentem fugir do Tártaro e chegar aos Campos Elíseos.


É para o Tártaro que os deuses enviam aqueles que se opõe a eles, os que lhes ofenderam e os que cometeram em vida atrocidades, crimes abomináveis e injustiças.

Cérberus - o cão de três cabeças
No Tártaro encontram-se os Titãs, para ali lançados depois que Zeus e seus aliados os derrotaram, assim como os Hecatônquiros, gigantes que cem braços que foram incubidos de montar guarda no Tártaro parra impedir a fuga dos condenados, embora a verdadeira intenção de Zeus ao enviá-los para lá era mantê-los afastados, pois temia sua força caso viessem a conspirar contra ele, o que de fato acabou por acontecer.

Kronos, pai de Zeus, também foi precipitado ao Tártaro quando seu filho o derrotou.

Íxion, um dos mais célebres "moradores" do Tártaro.
Tifão [ou Tífon] , filho de Tártarus e de Gaia, também se opôs a Zeus e como castigo foi igualmente lançado ao Tártaro.

Até mesmo o deus Apolo, que a julgar pelas lendas parece ser um dos filhos preferidos de Zeus, também já passou um tempo aprisionado no Tártaro, mas seu pai acabou por libertá-lo.

São inúmeras as lendas e os criminosos que fizeram por merecer o castigo eterno no Tártaro, entre estes os mais célebres são: Rei Sísifo; Rei Tantalus; Íxion, O rei dos lápitas; as Danaides, que foram condeadas pelos assassinatos de seus maridos; o gigante Tityos [ou Tício], o Rei Salmoneus.

De Acordo com o filósofo Platão, são 3 os incubidos de julgar e determinar a punição das almas recém chegadas ao Tártaro: Radamanto, Éaco [ou Aeacus] e Minos.

ÉACO, MINOS E RADAMANTO

Radamanto é responsável por julgar as almas dos asiáticos, Éaco julga os europeus e a Minos cabe julgar as almas dos gregos e de dar a palavra final e decisiva em todos os casos em que haja qualquer discordância entre os outros julgadores.


O TÁRTARO SEGUNDO A CONCEPÇÃO DOS ANTIGOS ROMANOS


Almas aprisonadas no tártaro sendo torturadas por seus crimes.

As mitologias grega e romana ficaram tão intrinsecamente ligadas depois que Roma derrotou e dominou a Grécia, que é praticamente impossível separá-las e determinar qual mito é de origem grega e qual é de origem romana.

Mas é fato aceito que a maioria dessas lendas e mitos são de origem grega, pois embora militarmente sob o domínio de Roma, culturalmente a Grécia superou seu dominador e o suplantou, Roma praticamente perdeu sua identidade e assimilou a cultura grega.

O Tártaro e seu cortejo de alma condenadas

Os mitos e deuses romanos mantiveram seus nomes, mas as lendas e histórias originais praticamente foram esquecidas e quase que inteiramente substituídas pelas lendas e histórias gregas.

Mesclaram-se as duas, porém prevalecendo mais a grega.

A concepção romana do Tártaro, portanto, é a mesma dos gregos, um lugar de expiações e castigos para aqueles que já morreram, mas existem algumas pequenas diferenças no que diz respeito a descrição do lugar.

TISÍFONE
O poeta Virgílio descreve o Tártaro como um lugar gigantesco, rodeado por um rio de chamas chamado Flegetonte e por paredes triplas para impedir que os pecadores possam fugir.

O lugar é guardado por uma hidra de cinqüenta maxilares, que está sempre de vigília a um portão protegido por sólidas colunas de adamantino, uma substância parecida com diamante, só que tão dura que se torna indestrutível.

Dentro, há um castelo com paredes amplas e uma torre de ferro muito alta.

No alto desta torre Tisífone está eternamente montando guarda, sempre armada de um chicote e sem jamais dormir.

Ela é uma das três Fúrias da mitologia romana: Tisífone (Castigo), Megera (Rancor) e Alecto (Interminável), que correspondem às Erínias para os gregos.

As 3 Fúrias ou erínias: Tisífone, Megera e Alecto
São as entidades responsáveis pelos castigos e punições, personificações da vingança, assim como a deusa Nêmesis, que punia os deuses, enquanto as Fúrias ou Erínias eram encarregadas de punir os mortais.

Elas nasceram das gotas do sangue que caíram sobre Gaia quando o Urano foi castrado por Cronos, mas na versão de Ésquilo, as Erínias são filhas de Nyx, a noite

Eram pavorosas, 
possuíam asas de morcego 
e cabelo de serpente.

Tisífone 
é a vingadora 
dos assassinatos 
(patricídio, fratricídio, 
homicídio, etc.)

Ela é a Erínia 
que açoita os culpados 
até enlouquecê-los.