MITOLOGIAS MUNDIAIS E CONCEITOS

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O CULTO DE HÉCATE NA ERA MODERNA SEGUNDO AS NOVAS TRADIÇÕES NEO-PAGANISTAS

Na antiguidade mais remota, Hécate foi tida como uma das mais poderosas deusas, mas depois, com a queda do matriarcado e o domínio da sociedade por parte da figura masculina, ela foi se tornando uma deusa cada vez mais obscura, mais temida do que venerada.

Mais tarde, com o advento do cristianismo, mais ainda se acenturam esses aspectos obscuros, e ela passou a ser vista principalmente como uma deusa "infernal".
LILITH

De acordo com a tradição cristã popular [não bíblica], Hécate já foi associada a Lilith, uma espécie de mulher demônio, segundo alguns, a primeira mulher a ser criada, antes mesmo de Eva, mas tão cruel que foi banida para o inferno, onde se tornou a esposa de um demônio [um dos anjos decaídos] e  amante e preferida do próprio Lucifer, ou, mais simplesmente, o demônio em forma de mulher.

Essa assossiação se deu ao fato da campanha nos primeiros anos do cristianismo em transformar e reduzir os antigos deuses a demônios, e particularmente os mais antigos foram o que mais facilmente foram assimilados a essa imagem.

Resultado das revoluções sócio-religiosas ao longo dos anos e de uma visão tendenciosa, fruto e vários séculos de perseguição e opressão religiosa, essa assossiação na verdade pouco tem haver com as verdadeiras origens e o culto original da deusa.

Alguns cultos neo-paganistas, contudo, hoje em dia procuram resgatar a verdadeira essência dessa deusa ancestal, restituindo-lhe a divindade perdida.

Para seus seguidores modernos Hécate é a deusa que transmite o poder de olhar para três direções ao mesmo tempo. Esta deusa sugere que algo no passado está amarrando o presente e prejudicando planos futuros.

É conhecida como uma Deusa "escura" por seu poder de afastar os espíritos maléficos, encaminhar as almas e usar sua magia para a regeneração.

Invocava-se a sua ajuda em seu dia (13 de Agosto) para afastar as tempestades que poderiam prejudicar as colheitas, segundo a visão dos antigos.

Já na aniga Grécia Hécate era considerada a patrona das sacerdotisas, Deusa das feiticeiras, sendo esta a principal característica que mantém nos tempos modernos, sendo portanto, a patrona das bruxas.

Mas é importante lembrar, naturalmente, que o conceito de bruxa para os neo-paganistas da era moderna difere muito da visão propagada desde os primeiros anos do cristianismo como sendo servas do demônio, criaturas maléficas cujo único objetivo é espalhar o mal e destruir o trono de Deus.
A bruxa moderna é aquela que vive em sintonia com as forças da natureza e de acordo com suas leis, está em contato com forças divinizadas e os elementais da água, do ar, da terra e do fogo, possui conhecimentos de magia e os aplica no dia a dia para estar em maior harmonia com as forças da criação. A idéia de que esses conhecimentos possam ser usados para o mal e para prejudicar outras pessoas, é abominada por aquelas que realmente compreendem a grandeza desses poderes e sabe fazer uso deles com sabedoria.

Hécate é associada à cura, profecias, visões, magia, Lua Minguante, encantamentos, livrar-se do mal, riqueza, vitória, sabedoria, transformação, purificação, escolhas, renovação e regeneração. A princípio, mas não exclusivamente, é uma divindade das mulheres, tanto para cultuar como para pedir auxílio, e também para temer caso alguém não esteja com sua vida espiritual em ordem ou faça mal uso dos poderes da magia.

É também a deusa dos caminhos, dando à humanidade novos caminhos a serem seguidos. Deusa forte e poderosa por excelência. Era a padroeira das Bruxas e em alguns lugares da Tessália, cultuada por grupos exclusivos de mulheres sob a luz da Lua.

Por muito tempo perdeu-se o seu real significado e origem e preservou-se apenas o medo incutido pela igreja cristã em relação ao nome e atuação de Hécate. Essa poderosa Deusa com múltiplos atributos foi considerada um ser maléfico, regente das sombras e fantasmas, que trazia tempestades, pesadelos, morte e destruição, exigindo dos seus adoradores sacrifícios lúgubres e ritos macabros, mas os atuais cultos neo-paganistas da era moderna vêm desmistificar as distorções patriarcais e cristãs e contribuir para a revelação das verdades milenares sobre essa deusa pré-helênica, cultuada originariamente na Trácia e depois encorporada aos mitos da Grécia Antiga, e então finalmentre sincretizada com a deusa Trívia dos romanos.

 ”Senhora das encruzilhadas” - dos caminhos e da vida - e do mundo subterrâneo, Hécate é um arquétipo primordial do inconsciente pessoal e coletivo, que nos permite o acesso às camadas profundas da memória ancestral.

É representada no plano humano pela xamã que se movimenta entre os mundos, pela vidente que olha para passado, presente e futuro e pela curadora que transpõe as pontes entre os reinos visíveis e invisíveis, em busca de segredos, soluções, visões e comunicações espirituais para a cura e regeneração dos seus semelhantes.

Filha dos Titãs estelares Astéria e Perses, Hécate usa a tiara de estrelas que ilumina os escuros caminhos da noite, bem como a vastidão da escuridão interior. Neta de Nyx, deusa ancestral da noite, Hécate também é uma “Rainha da Noite” e tem o domínio do céu, da Terra e do mundo subterrâneo.

“Senhora da magia” confere o conhecimento dos encantamentos, palavras de poder, poções, rituais e adivinhações àqueles que A cultuam, enquanto como “Guardiã dos sonhos e das visões”, tanto pode enviar visões proféticas, quanto alucinações e pesadelos se as brechas individuais permitirem.

É também a “Rainha dos mortos”, condutora das almas e sua guardiã durante a passagem entre os mundos, mas Ela também rege os poderes de regeneração, sendo invocada no desencarne e nos nascimentos para garantir proteção e segurança no parto, vida longa, saúde e boa sorte. Ela cuida das crianças durante a vida intra-uterina e no seu nascimento, assim como fazia sua antecessora egípcia, a parteira divina Heqet.

Possuidora de uma aura fosforescente que brilha na escuridão do mundo subterrâneo, Hécate é a guardiã do inconsciente e guia das almas na transição, enquanto as duas tochas apontadas para o céu e a terra, iluminam a busca da transformação espiritual e o renascimento.

Como deusa lunar Hécate rege a face escura da Lua, enquanto Ártemis é associada com a lua nova e Selene com a lua cheia.

No ciclo das estações e das fases da vida feminina Hécate forma uma tríade divina que representa a donzela, a mãe a a anciã, detentora de sabedoria, padroeira do inverno, da velhice e das profundezas da terra.

Hécate é protetora dos viajantes e guardiã das encruzilhadas de três caminhos.

Suas insígnias são a tocha que ilumina o caminho; a chave, que abre os mistérios; a corda, que tanto conduz as almas como também representa o cordão umbilical do nascimento; a foice, que corta as ilusões e os medos.

As deturpações das verdadeiras qualidades dessa deusa durante a transição das antigas religões para  cristiansmo levaram à perseguição, tortura e morte pela Inquisição de milhares de “protegidas de Hécate”, curandeiras, parteiras e videntes, mulheres “suspeitas” de serem Suas seguidoras e acusadas como bruxas.
No intuito de abolir qualquer resquício do Seu poder, Hécate foi caricaturizada pela tradição patriarcal como uma bruxa perigosa e hostil, à espreita nas encruzilhadas nas noites escuras, buscando e caçando almas perdidas e viajantes com sua matilha de cães pretos. As imagens horrendas e chocantes são projeções dos medos inconscientes masculinos perante os poderes “escuros” da Deusa, padroeira da independência feminina, defensora contra as violências e opressões das mulheres.

No atual renascimento das antigas tradições da Deusa compete aos círculos sagrados femininos resgatar as verdades milenares, descartando e desmascarando imagens e falsas lendas que apenas encobrem o medo patriarcal perante a força mágica e o poder ancestral feminino.

A conexão com Hécate representa um valioso meio para acessar a intuição e o conhecimento inato, como também ajuda a compreender e aceitar a passagem inexorável do tempo e transmutar nossos medos perante o envelhecimento e a morte.

Ela detém a chave que abre a porta dos mistérios e do lado oculto da psique; Sua tocha ilumina tanto as riquezas quanto os terrores do inconsciente que precisam ser reconhecidos e transmutados, trazendo a luz para a escuridão e revelando o caminho da renovação.

Para uns era filha de Perseu e Asteria e mãe de Scyylla, para outros era filha de Nyx, a noite. Alguns historiadores dizem que ela era apenas uma das Fúrias e que ganhou proeminência com o tempo.

Historicamente, Hécate é uma Deusa que se originou nos mitos dos antigos karianos, no sudoeste da Asia menor, e foi assimilada na religião grega a partir do seculo 6 a.C.

Hécate foi adotada pela mitologia Olimpica após os Titãs serem derrotados, e seu culto perdurou entre os gregos até tempos tardios. Era considerada tão importante que os gregos acreditavam que o proprio Zeus lhe rendia culto e oferendas.

Existiram pouquíssimos Templos dedicados a Hécate e os poucos que foram encontrados são de escassa informação ou não totalmente documentados. Muitos dos Santuários devotados a Ela eram pequenos e não tinham grandes ou preciosos materiais.

Existem estátuas que a representam, mas são quase todas copias romanas e é difícil saber o quão fiéis elas sejam das originais.

Desde a antiguidade o culto a essa deusa possuía fortes componentes místicos, ligando-a a Magia. O antigo costume grego de deixar alimento à porta dos pobres para alcançar as bençãos dessa deusa, pode ser hoje substituído pela contribuição para a alimentação de pessoas menos favorecidas ou pela distribuição de cestas básicas.

Outras formas particularmente modernas de venerar esta Deusa incluem o estudo da magia e a apreciação de coisas estranhas e assustadoras, tais como passeios noturnos em locais sombrios, como cemitérios, por exemplo, já que é uma deusa ligada à morte e ao renascimento.