o que para nós atualmente é mitologia,
mero conjunto de mitos e lendas,
compreendia na verdade para os povos da antiguidade a sua prática religosa.
A antiga religião nórdica, portanto,
deu origem ao que hoje conhecemos como mitologia nórdica,
e compreende a prática religiosa dos povos antigos que habitavam a parte mais ao norte da Europa antes que essas religiões fossem suprimidas pelo cristianismo.
Esses povos são os que habitavam a região da Europa setentrional e do Atlântico Norte,
que consiste na Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia,
e seus territórios associados, que incluem as Ilhas Faroé, Gronelândia, Svalbard e Aland.
Era nessa região que existiram também as antigas Germânia (da qual se originou a Alemanha) e Ecandinávia.
Aliás, "Escandinávia" é por vezes utilizado como sinônimo para os países nórdicos, embora dentro desses países os termos sejam considerados distintos.
O povo mais caracterítico Dessa época e região são os antigos vikings, cuja organização social, política e religiosa apresentava similaridades com a de outros antigos povos europeus, como os celtas e os bálticos, sendo que os celtas eram um conjunto de povos organizados em múltiplas tribos e pertencentes à família linguística indo-européia que se espalhou pela maior parte do oeste da Europa; e os bálticos, também conhecidos como baltos, são os descendentes de um grupo de tribos indo-européias que colonizou a região entre o baixo Vístula, o alto Duina Ocidental e o rio Dnieper no litoral sudeste do mar Báltico.
BLÓT era a cerimônia religiosa dos antigos povos nórdicos, geralmente praticada em bosques sagrados. |
Blót é uma palavra derivada do verbo blóta [do antigo idioma anglo-saxônico que deu origem a língua inglesa], que significava "venerar com sacrifício", ou "fortalecer".
O sacrifício costumava consistir de animais, em especial porcos e cavalos. A carne era cozida em grandes poços cheios de pedras aquecidas, tanto dentro como fora das residências.
Acreditava-se que o sangue continha poderes especiais, e era borrifado nas estátuas dos deuses, nas paredes e nos próprios participantes da cerimônia.
O momento em que as pessoas se reuniam em torno dos caldeirões fumegantes, para fazer uma refeição juntamente com os deuses ou com os elfos era sagrado.
A bebida que era passada em torno da mesa, de participante para participante, também era abençoada e sagrada; quase sempre era cerveja ou hidromel, porém entre a nobreza podia ser vinho importado.
As tribos germânicas raramente ou quase nunca tinham templos construídos para a prática de sua religiosidade, as cerimônias normalmente aconteciam em bosques considerados sagrados, mas podiam também ocorrer em casas e/ou em altares simples de pedras empilhadas conhecidas como horgr.
Embora o uso de templos não fosse muito comum, em alguns lugares parecia haver uma maior concentração para a prática religiosa, tais como Skiringsal, Lejre e Uppsala.
TEMPLO DE UPSALA |
Apesar de parecer que um certo tipo do sacerdócio possa ter existido, nunca houve um caráter profissional e semi-hereditário como o arquétipo do druida céltico. Isto ocorre porque a tradição xamanista foi mantida pelas mulheres, as Völvas, mas é geralmente aceito que os reinados germânicos evoluíram a apartir de seus sacerdotes, ou seja o lider espiritual era também o lider político, de forma que o papel de sacerdote cabia aos reis e aos chefes de clãs, que eram grupos formados por diversas famílias com um lider em comum.
ALTAR CERIMONIAL NO TEMPLO DE UPPSALA |
Já para os celtas, como citado acima, o sacerdócio era uma função especifica, e quem o praticava eram os druidas, portanto, druida era o sacerdote celta da antiguidade.
Há também indícios, não muito confiáveis, da prática de sacrifício humano.
O único testemunho ocular do sacrifício humano germânico sobreviveu no conto de Ibn Fadlan sobre um enterro do navio de Rus, onde uma escrava menina se ofereceu para acompanhar seu senhor ao mundo seguinte.
Testemunhos mais indiretos são dados por Tacitus, Saxo Grammaticus e Adan de Bremen.
O Heimskringla descreve que o rei sueco Aun sacrificou nove de seus filhos em um esforço para prolongar sua vida até que foi impedido de matar seu último filho, Egil.
Há Indícios, não muito confiáveis, da prática de sacrifício humano. |
De acordo com Adam de Bremem, os reis suecos sacrificavam escravos do sexo masculino a cada nono ano durante os sacrifícios de Yule no Templo em Upsalla.
Yule é uma cerimônia, ou Sabat, que acontecia anualmente por volta do dia 21 de dezembo, em observância do renascimento do Deus Sol. Não é por acaso, portanto, que o Yule cai no Solstício de Inverno, a noite mais longa do ano. Após o Solstício, o dia cresce mais e o sol a cada dia permanece à vista por um período maior, até a chegada do o Solstício de Verão, em junho, significando o crescimento do Deus Sol depois de Seu renascimento.
Alguns elementos das tradições do Yule foram preservados, como a tradição sueca de matar um porco durante o Natal, que era originalmente parte do sacrifício a Frey. Esse costume não só se preservou como se espalhou pelo mundo, vindo daí a tradição do pernil de natal tão comum nas mesas natalinas em vários países do mundo.
ODIN - PRINCIPAL DEUS DA MITOLOGIA NÓRDICA |
No Neopaganismo moderno, o Yule é celebrado no Solstício de Inverno, por volta de dia 21 de Dezembro no hemisfério Norte e por volta do dia 21 de Junho no hemisfério Sul.
Os suecos tinham o direito de eleger e depôr os próprios reis, e tanto o rei Domalde como o rei Olof Trätälja são conhecidos por terem sido sacrificados após anos de inanição.
Odin foi associado com a morte por enforcamento, e uma prática possível do sacrifício a Odin por estrangulamento tem alguma sustentação arqueológica na existência de corpos preservados perfeitamente pelo ácido das turfas em Jutland.
Homem de Tollund.
Entretanto, não há nenhum testemunho escrito que interprete explicitamente a causa destes estrangulamentos, que poderiam, obviamente, ter outras explicações, como por exemplo punição ou pena de morte por algum crime cometido.
A falta de confiabilidade nessas informações e no próprio estudo da mitologia nórdica é que, frequentemente, os testemunhos mais próximos que existem das épocas mais remotas foram escritos por cristãos como por exemplo o Younger Edda e o Heimskringla, que foram escritos por Snorri Sturluson no Século XIII, após quase duas centenas de anos depois que a Islândia se tornou cristã, em torno do ano 1000, em um momento histórico sob um intenso clima político anti-pagão na Escandinávia. Toda a literatura ou registro a respeito, portanto, pode ser tendenciosa ou proprositadamente favorável ao cristianismo, como por exemplo a acusação da prática de sacrifício humano por parte das antigas religiões, que a partir do evento do cristianismo passaram a ser consideradas " religiões pagãs".
Virtualmente, toda a literatura sobre as sagas vikings se originou na Islândia, uma ilha relativamente pequena e remota.
Mesmo contando com o clima de tolerância religiosa que ainda permanecia naquela época nesta região, Sturluson foi guiado por um ponto de vista essencialmente cristão.
O Heimskringla, cujas cópias são tão difundidas na Noruega atual quanto a Bíblia, fornece algumas introspecções interessantes nesta direção.
Snorri Sturluson introduz Odin como um lorde guerreiro mortal da Ásia que adquire poderes mágicos, se estabelece na Suécia, e se torna um semi-deus após sua morte.
Mais tarde, no Heimskringla, Sturluson apresenta em detalhes como o Santo Olaf Haroldsson converteu brutalmente os escandinavos ao cristianismo.
Durante a cristianização da Noruega, o rei Olaf Trygvasson mantinha as völvas (mulheres xamãs) amarradas em pequenas rochas à mercê da maré. Uma terrível e longa espera pela morte, condenadas a isso por conta de sua prática religiosa, consideradas como uma espécie de bruxas.
Na Islândia, tentando evitar a guerra civil, o parlamento votou a favor da cristianização, mas tolerou a prática de cultos pagãos na privacidade dos lares. Essa atmosfera mais tolerante permitiu o desenvolvimento da literatura acerca das sagas, que foi uma janela vital para auxiliar a compreender a era pagã.
Por outro lado, a Suécia teve uma série de guerras civis durante o século XI, que terminou com a queima do templo em Uppsala.
A conversão não aconteceu rapidamente, independente se a nova fé cristã fosse mais ou menos imposta pela força.
O clérigo trabalhou fortemente no sentindo de ensinar à população que os deuses nórdicos eram apenas demônios, mas seu sucesso era limitado e os deuses nunca se tornaram realmente malignos na mente popular.
Dois achados arqueológicos extremamente isolados podem ilustrar quanto tempo a cristianização levou para atingir toda a região:
1º - Os estudos arqueológicos das sepulturas na ilha sueca de Lovön mostraram que a cristianização levou entre 150 a 200 anos.
2º - Do mesmo modo, na cidade comercial de Bergen, duas inscrições rúnicas do século XIII foram encontradas.
A primeira diz "pode Thor o receber, pode Odin possui-lo".
A segunda inscrição é um galdra que diz "eu entalhei runas de cura, eu entalhei runas de salvação, uma vez contra os elfos, duas vezes contra os trolls, três vezes contra os thurs.
Essa segunda inscrição menciona também a perigosa valquiria Skögul.
Apesar de haver poucos testemunhos do século XIV até o século XVIII, o clérigo, tal como Olaus Magnus, no ano de 1555, escreveu sobre as dificuldades de extinguir a opinião antiga sobre os deuses antigos.
Hagbard e Signy.
As versões conhecidas de ambas foram registradas nos séculos XVII e XIX.
No século XIX e no início do século XX, os folcloristas suecos documentaram o que o povo comum acreditava, e o que eles deduziram era que muitas tradições dos deuses da mitologia nórdica haviam sobrevivido. Entretanto, as tradições estavam muito longe do sistema coeso desenvolvido por Snorri.
A maioria dos deuses tinham sido esquecidos e somente o caçador Odin e a figura de matador de gigantes de Thor aparecia em numerosas lendas.
Freya era mencionado algumas vezes e Balder sobrevivia somente nas lendas sobre nomes de lugares.
Outros elementos da mitologia nórdica sobreviveram sem ser percebido como tal, em especial as lendas a respeito dos seres sobrenaturais no folclore escandinavo.
Desde que o inferno cristão se assemelhou ao domicílio dos mortos da mitológia nórdica, um dos nomes foi aproveitado da fé antiga: Helvite, ou seja, punição de Hel, que na mitologia nórdica é a deusa que governa o mundo dos mortos, que a partir do ponto de vista cristão passou ser visto como inferno.
A DEUSA HEL Senhora do Mundo dos Mortos |
Outra reminiscência dos tempos antigos reside nos nomes dos dias da semana que foram nomeados em referência a um deus ou criatura mítica da antiguidade, levando-se em conta, claro, que estas palavras do alemão e inglês modernos se derivam de palavras do antigo idioma anglo-saxônico.
Vale lembrar também que na mitologia nórdica Sol e Lua eram também os nomes dos deuses que regiam estes astros.
Temos portanto:
Dia do Sol [Domingo]: Sonntag, em alemão e Sunday em inglês [que traduzido literalmente ao pé da letra significa dia do sol]
Dia da Lua [segunda-feira]: Montag, em alemão e Monday em inglês
Dia de Tyr [Terça-feira]: Dienstag, em alemão e Tuesday em inglês ,
Dia de Odin (Woden ou Wotan) [Quarta-feira]: Mittwoch, em alemão e Wednesday em inglês
Dia do trovão ou dia de Thor (Deus do Trovão) [Quinta-feira]: Donnerstag, em alemão e Thursday em inglês
Dia de Freyja [Sexta-feira]: Freitag, em alemão e Friday em inglês
Sabá (alemão), dia de Saturno (inglês) [Sábado]: Samstag, em alemão e Saturday em inglês
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