MITOLOGIAS MUNDIAIS E CONCEITOS

domingo, 28 de novembro de 2010

CALÍGENA

CALÍGENA SEGUNDO UMA CONCEPÇÃO MAIS MODERNA
Em várias mitologias, ao redor de todo o mundo, em seus primórdios, a humanidade sempre devotou culto a uma deusa, sexo feminino, procriadora, geradora da vida. Como é a mulher que gera a vida em seu ventre, o mito da “deusa-mãe", presente em todas as mitologias, é perfeitamente explicável. Muito natural, portanto, crer-se em uma deusa, mulher, como criadora do universo e da vida, ou pelo menos da vida, o que aliás pra mim faz muito mais sentido. Se fosse um homem de fato, um deus, que tivesse gerado o homem e os seres vivos em geral, caberia naturalmente ao gênero masculino carregar e gerar a vida. Porque um deus, sendo ele o criador de tudo e de todos, daria à mulher o maior de todos os seus dons: o de conceder a vida?

KHAOS, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA ARTE MODERNA
A predominância da força física masculina, porém, tornou o homem, nos primórdios do mundo, superior a mulher (não estou fazendo essa afirmação, muito menos dizendo que concordo, é apenas uma constatação histórica), dando ao homem o poder e a força, a organização da sociedade. Isso em muitas culturas foi apagando aos poucos o mito da grande deusa-mãe, ou pelo menos a colocou como mera geradora de vida, e não governante do universo.

O papel de governar, comandar e determinar o destino do mundo e da humanidade, esse coube quase sempre a um deus masculino, ou seja, ao homem. É natural, afinal, era assim mesmo no passado, o homem era o membro dominante da sociedade; mas ao se falar em criação, princípio e origem da vida, depara-se sempre com uma figura feminina, o mito universal da deusa-mãe. Não foi diferente na Grécia antiga, esse papel coube a Calígena, contra-parte feminina de khaos.

A sociedade grega antiga porém, a qual eu muito admiro, tinha talvez como uma de suas poucas e grandes falhas, do meu pobre e parco ponto de vista, justamente o de relegar a mulher a um papel infimamente inferior ao do homem, puramente figurativo e com a única função de gerar filhos, mas para todo o resto plenamente dispensável e inútil. Essa supremacia masculina é talvez a responsável pela diluição do mito de Calígena, raramente citada e quase colocada no esquecimento, passando a prevalecer somente o mito de khaos, ou seja a parte masculina.
Calígena (do grego Ομιχλης), que significa Névoa, seria a personificação da Névoa Primordial. Seria um dos deuses primordiais da mitologia grega, Protogonos.

Calígena, como já foi dito, seria a contra-parte feminina de khaos, e assim como ele, representaria todo o universo, tudo aquilo que possui a fonte propulsora da vida, enfim, o próprio cosmo. khaos seria portanto o conjunto de tudo o que existia antes que existisse alguma coisa, a massa inicial, uma mistura de tudo junto, antes que o universo e os planetas se formassem, ou seja: o tudo, que então na verdade ainda era o nada.
NIX OU NYX: A NOITE, FILHA DE KHAOS
khaos gera a partir de si mesmo o universo, que na verdade seria ele mesmo antes de ser alguma coisa (complicado isso, né?) e cria também a noite (Nyx) e a escuridão (Érebus). Ou seja, no princípio de tudo só existia o universo vazio e sem vida, o breu, a escuridão, a noite. E aí, surge a vida, e neste ponto exatamente surge também Calígena, como geradora e criadora dessa vida.


Mãe de todo o universo e criadora da cosmo energia, Calígena seria a primeira divindade feminina a existir e exerceria um papel fundamental na criação do mesmo, assim como o próprio Caos.

Mas Calígena é pouco citada na mitologia pelos poetas gregos e romanos, até mesmo por Hesíodo, e aparece principalmente na obra do romano Higino. Por isso o fato de ser tão pouco conhecida e muitos nem sequer dela já terem ouvido falar, quase desaparecendo ao longo dos anos, mas está (ou estava) presente na criação do mundo e do próprio universo como a força feminina, o poder criador e gerador da vida, a grande deusa-mãe dos gregos antigos.


Ao longo dos anos, devido a cultura e tradições de cada época, outras deusas receberam também dos gregos antigos o posto de deusa-mãe, mas Calígena é o mais antigo mito grego a carregar esse título.
CALÍGENA ENVOLTA EM LUZ E SOMBRAS


Nos tempos modernos, segundo a concepção de alguns cultos do NEO-PAGANISMO, muitas vezes o nome de Calígena é erroneamente ligado a uma deusa da escuridão, praticamente uma mulher demônio, talvez devido a campanha cristã, no período de seu surgimento, de transformar em demônios todos os antigos deuses, derrubando assim as antigas crenças para enfim substituí-las, mas ligar Calígena a uma entidade ou demônio das trevas é uma violenta corrupção do verdadeiro mito. Sem dúvida ligada às trevas, é fato, mas não as trevas demoníacas e sim as trevas que antecederam a luz, as trevas do universo inóquo e sem vida antes do próprio ato da criação. Senhora das trevas sim, mas das trevas da inexistência, ou como seu próprio nome exprime, da neblina primordial, de forma que mesmo envolta em sombras, não é Calígena quem traz a escuridão, ao contrário, ela rompe-a, criando a vida onde nada havia e fazendo brotar o primeiro foco de luz onde só existia o breu.

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