MITOLOGIAS MUNDIAIS E CONCEITOS

domingo, 29 de abril de 2012

HECATE



A deusa Hecate ou Hécate (em grego antigo: Εκάτη, Hekátē) é mais comumente dada como filha dos titãs Perses e Astéria (Noite-Estrelada), mas como todos os mitos mais antigos, as lendas não são muito claras, devido à escassez de registros escritos e documentos, e em alguns mitos ela aparece como filha de Tártaros e Nyx; ou, mais raramente, de Zeus e Hera, o que não faz muito sentido, justamente por se tratar de um mito tão antigo, provavelmente anterior aos deuses do Olimpo. Mas aparentemente não tão antigo quanto os primeiros deuses ligados à criação, pois há fortes indícios que seu culto não se iniciou na Grécia, mas depois foi incorporado aos mitos gregos, portanto a versão mais aceita é a primeira: Perses e Astéria.
Hécate, em grego, significa "a distante”, embora alguns atribuam a origem do nome à palavra egípcia Hekat que significaria "Todo o poder", já que supostamente Hécate teria se originado em mitos do sudoeste asiático e posteriormente assimilada para a religião greco-romana.
Ela enviava aos humanos os terrores noturnos e aparições de fantasmas e espectros. Também era considerada a deusa da magia e da noite, mas somente em seus aspectos mais terríveis e obscuros.
Era associada a Ártemis, mas havia a diferença de que Ártemis representava a luz lunar e o esplendor da noite. Também era associada à deusa Perséfone, a rainha dos infernos, ou seja, o Tártaro, lugar onde Hécate vivia acompanhada por uma matilha de lobos. Os gregos chamavam-na de A Megera dos Mortos.
Nos mitos Hecate está sempre relacionada com feitiços e obscuridade, portanto, os magos e bruxas da Antiga Grécia lhe faziam oferendas com cachorros e cordeiros negros no final de cada lua nova.
Era representada com três corpos e três cabeças, ou um corpo e três cabeças. Levava sobre a testa o crescente lunar (tiara chamada de pollos), uma ou duas tochas nas mãos e com serpentes enroladas em seu pescoço.
Era uma deusa muito temida, pois se tratava de uma poderosa bruxa por quem até mesmo os deuses do Olimpo tinham temor. Quando aconteceu a fusão entre os mitos gregos com os da Antiga Roma, quando esta dominou a Grécia, os romanos assimilaram Hécate a Trívia, deusa das encruzilhadas, embora a relação dada entre ambas não seja tão perfeita como em outros casos da mitologia.
Hécate se uniu primeiramente com Fórcis e foi mãe do monstro Cila e depois com Aestes [ou Eetes], de quem gerou a feiticeira Circe. Em outros mitos, Cila era uma ninfa que foi transformada por Circe num monstro marinho.
O cipreste estava associado a Hécate. Seus animais eram os cachorros, lobos e ovelhas negras.
Suas três faces simbolizam a virgem, a mãe e a senhora. Eram esses os aspectos que podia assumir, cada um deles ligado a uma das três fases da lua (na antiguidade grega só se atribuíam à lua três fases).
Hecate era associada tanto ao bem quanto ao mal. Na forma de anciã, inspirava medo e terror, era tida como malévola, cruel e inflexível, mas como donzela e mãe lhe eram atribuídas outras qualidades e lhe chamavam “a mais amável”.
Nos mitos, seu papel foi sempre secundário. Participou da Titanomaquia (a guerra entre os deuses olimpianos e os Titãs) como aliada de Zeus, embora dois dos Titãs fossem seus pais. Foi tão valiosa a sua ajuda, que
Zeus não se poupou na recompensa e concedeu-lhe uma devida parte em todos os domínios, oferecendo-lhe poder sobre a terra, o céu e o mar e, até, sobre o submundo que a Deusa tornou a sua moradia. Era, portanto uma divindade tripla: lunar, infernal e marinha. Os marinheiros consideravam-na sua deusa titular e pediam-lhe que lhes assegurasse boas travessias.


Hécate ajudou Deméter a procurar sua filha Perséfone quando esta foi raptada por
Hades e combateu Hércules quando ele tentou enfrentar Cérbero, o cão de três cabeças que toma conta dos portões do Tátaro e que faz companhia a ela no mundo subterrâneo.
De Todos os animais que lhe eram consgrados, os cães eram os seus preferidos, daí o motivo dela enfrentar Hércules tentando proteger Cérbero.


Apesar de ter escolhido o Tártaro como sua moradia, durante a noite ela ainda sai do submundo e caminha pelo nosso mundo, fazendo-se acompanhar do seu séquito de fantasmas e anunciada pelo ladrar dos cães, os seus animais mais queridos. Por sua constante presença na Terra e por acreditarem que durante seus passeios noturnos ela podia ser vista por aqueles que viajavam durante a noite, ela era considerada, entre todos os deuses, a que vivia mais próxima dos homens, apesar do signifcado de seu nome [a distante].


Hecate era a mais antiga forma grega da Deusa Tríplice, uma divindade Noturna da vida e da morte. Possuía títulos como “Rainha do Mundo dos Espíritos”, “Deusa da Bruxaria”, Deusa da Lua Minguante, guardiã das encruzilhadas, senhora dos mortos e rainha da noite.
Ela era homenageada com procissões em que se carregavam tochas e oferendas para as conhecidas "ceias de Hécate".
Lendas de Hécate eram contadas por todo o Mediterrâneo. Especialmente para os trácios, Hécate era a Deusa da Lua, das horas de escuridão e do submundo. Parteiras eram ligadas a ela, pois os gregos e trácios acreditavam que ela controlava o nascimento, a vida e a morte.
Segundo essas lendas, Hecate era cultuada pelas guerreiras amazonas como a Deusa da Lua Nova, uma das três faces da Lua, a regente do
Submundo, e conduzia uma carruagem puxada por dragões. Era uma deusa caçadora que sabia de seu papel no reino dos espíritos e todas as forças secretas da Natureza estavam sob o seu controle. Todos os animais selvagens lhe eram consagrados e por isso algumas vezes era representada com três cabeças de animais.


Outros de seus símbolos eram a chave e o caldeirão. As mulheres que a cultuavam normalmente tingiam as palmas de suas mãos e as solas dos pés com hena.
Seus festivais aconteciam durante a noite, à luz de tochas. Anualmente, na ilha de Aegina, no golfo Sarônico, acontecia um misterioso festival em sua honra.
Um de seus animais sagrados era a rã, um símbolo da concepção. Outro animal sagrado era o cão.
Era chamada de A Deusa das Transformações, pois regia várias passagens da vida, e podia alterar formas e idades.
Hécate era considerada como o terceiro aspecto da Lua, a Megera ou a Anciã (Portadora da Sabedoria).
No início, Hécate não era uma Deusa ruim. Após a queda do matriarcado, os gregos a cultuavam como uma das rainhas do Submundo e governante da encruzilhada de três caminhos.
É uma Deusa que tem inúmeros atributos e provavelmente seja a menos compreendida da mitologia grega.
Ela não reina apenas sobre a bruxaria e a morte, mas também sobre o nascimento, o renascimento e a renovação.
Em tudo o que se refere a essa deusa existe sempre a triplicidade, por isso ela possuia diferentes títulos e atributos. Como Perseis, a destruidora, ela inspirava medo e terror, no entanto, em seu aspecto de Atalos, a delicada, era vista como uma divindade doce e protetora, zelava pelos homens e livravá-os de roubos e assassínios, e ajudava as crianças a atravessar os perigosos anos da infância sem grandes problemas.
[Obs.: É historicamente provado e registrado que na antiguidade a mortandade infantil era muito grande, devido a diversos fatores, como por exemplo piores condições de vida, mas principalmente devido aos parcos recursos da medicina naquela época, o que fazia muitas crianças perecerem de diversas doenças antes de chegarem a idade adulta, por isso o período da infância era considerado um dos mais perigosos e difíceis de se atravessar.]

 Como Skylakagetis, ela era a Senhora dos cães, sua protetora, e fazia-se sempre acompanhar por um enorme cão negro. No Passado esse cão havia sido Hécuba, esposa do Rei Príamo de Tróia, pai de Heitor e Alexandre (ou Páris para os gregos), mas também de Polidomus, que era  filho mais novo de Hécuba e Príamo. Hécuba encontrou Polidomus esfaqueado, ainda bebê, pelo rei da Trácia, por casião da invasão de Tróia. Possuída pela dor e desesperp de ver o filho morto, Hécuba matou o assassino e atirou-se da torre, mas os Deuses tiveram pena dela e antes que tivesse atingido o chão transformaram-na num cão que Hécate imediatamente adotou e consevava sempre em sua companhia.
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Representação moderna de Hecate


Hécate era evocada pelos gregos para protegê-los dos perigos e das maldições, e para tanto havia na entrada de cada casa um altar em que lhe eram feitas libações. Havia também altares nos cruzamentos onde era costume deixar comida para os pobres, e todos os meses, na noite sem lua, os gregos, pelo menos os atenienses, celebravam esta deusa deixando uma oferta de comida para os pobres em frente à porta de suas casas.


Hécate, portanto, tinha um lado tão benéfico e generoso, quanto outro sombrio e assustador, mas foi provavelmente graças à campanha cristã em transformar os antigos deuses em demônios, que se acentuaram seus aspectos obscuros e a forma como esse mito é interpretado e visto nos dias de hoje.

REPRESENTAÇÕES CLÁSSICAS DA DEUSA:


































OUTROS MITOS LIGADOS A HECATE:
Seus pais: os Titãs Perses, o destruídor, e Astéria, a noite estrelada. Sendo filha de Perses, Hécate, em um de seus aspectos, ficou também conhecida como Perseis, a destruidora  [Não confundir com a oceânide Perseis, que era uma das filhas de Oceanus].
Nyx, a noite, foi a  mãe de todos os Titãs, portanto, avó de Hécate, mas em alguns mitos aparece como sua mãe.
As duas deusas estão tão intimamente ligadas, mas como se fossem opostos uma da outra, que muitas vezes Ártemis é cofundida como uma das faces de Hécate, no caso a virgem, mas na verdade são duas deusas distintas. Enquanto Ártemis representa a luz da lua e o esplendor da noite, e vive no Olimpo, ou seja, nas alturas, Hécate é o lado escuro da lua e vive no submundo, o mundo dos mortos, que os gregos acreditavam ficar no subsolo da Terra. Ambas também são caçadoras.

Perséfone era outra divindade que era sempre associada a Hecate, pois ambas dividem o título de senhoras do submundo, Hécate por direito e antiguidade e devido á sua própria natureza, pois atua tanto sobre a vida como sobre a morte, e Perséfone na qualidade de esposa de Hades, Senhor absoluto do Tátaro, que lhe coube quando, após derrotar os Titãs, os três deuses mais poderosos dividiram entre si o mundo: Os céus e a Terra para Zeus, os mares e oceanos para Poseidon, o Mundo os Mortos para Hades. Quando Hades sequestrou Perséfone para casar-se com ela, enquanto ela colhia flores na Terra, foi Hécate que ajudou a localizá-la. Deméter, mãe de Perséfone, ficou inconsolável e pediu a intervenção de Zeus. Fez-se um acordo, então, no qual Perséfone passaria metade do ano no Olimpo na companhia de sua mãe e a outra metade vivendo no Tártaro, junto a seu esposo, período esse em que Hécate se faz presente como sua amiga e companhia. A forte ligação entre essas deusas fez que Pérsefone também fosse confundida com o aspecto mais jovem de Hécate, sendo Deméter a mãe e Hécate propriamente dita a anciã, como se essas três deusas se juntassem para formar uma trindade. Mas essa interpretação também é errada, talvez causada pela dificuldade da mente moderna em assimilar Hécate como uma deusa tríplice, porém única, ou seja três em uma só, o que provavelmene causou a idéia errônea de que na verdade seriam três deusas distintas, porém interligadas.


Trívia era a deusa romana que correspondia à Hécate dos gregos. Com o sincretismo entre as duas mitologias, passaram a ser cultuadas como uma única deusa.

Fórcis era um deus marinho, filho de Pontos, o mar, e Gaia, a terra. Da união de Fórcis e Hécate nasceu o monstro Cila. De acordo com alguns mitos, Cila não nasceu monstruosa, mas era uma ninfa que a feiticeira Circe transformou em um monstro marinho.

Eetes foi um rei lendário da Cólquida, atual Geórgia. Ele era filho de Hélios [sol ou luz do sol] e Perseis, que era uma das oceânides, filhas de Oceanus. Eetes, às vezes também chamado Aestes, era neto dos Titãs Hiperião [ou Hiperion] e Teia, por parte de pai, e de Oceanus e Tétis por parte de mãe. Existem diferentes versões sobre esse mito. Numa dessas versões Eetes se uniu a Hécate e dessa união nasceu a feiticeira Circe, que transformava homens em animais, preferencialmente porcos. Em outra versão Circe não é sua filha, e sim sua irmã, portanto filha também de Hélios e Perseis. Mas em ambas as versões Eetes está ligado a Hécate, pois posteriormente veio a casar-se com a ninfa Asterodia, sua primeira esposa, que de a luz a Calcíope e Medéia.
Medéia veio a tornar-se uma poderosa feiticeira, e como tal, seguidora de Hécate, que é a deusa da magia, mentora e protetora dos magos e bruxas. Circe e Medéia são as mais célebres feiticeiras da mitologia grega, ambas devotas e seguidoras de Hécate, a quem provavelmente deviam seus grandes poderes.


A Rainha Hécuba, esposa de Príamo, rei de Tróia, depois de matar o assassino de seu filho mais jovem, esfaqueado ainda bebê em seu berço, atirou-se de uma torre, mas os deuses se apiedaram e a transformaram num enorme cão negro antes que tocasse o chão, Hécate, então a acolheu e e passou a trazê-la sempre em sua companhia.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

TEMPLOS EGÍPCIOS DA ANTIGUIDADE

Pilone do Templo de Luxor.
Os templos no Antigo Egito eram entendidos como os locais onde residia a divindade (hut-netjer, "casa do deus"), que poderia ser acompanhada pela sua família e por outras Divindades, sendo por isso muito diferentes dos modernos edifícios religiosos onde se congregam os crentes.

Os templos dos períodos mais antigos da história do Antigo Egito, como o Império Antigo e o Império Médio, não chegaram em bom estado até aos dias de hoje, pelo que são as construções do Império Novo e da época ptolomaica que permitem o conhecimento da estrutura dos templos.
Primeiro pilone do templo
de Hórus, em Edfu
Na estrutura "clássica" dos templos egípcios podem ser distinguidas três partes: o pátio, as salas hipóstilas e o santuário.

À entrada de um templo encontravam-se obeliscos e estátuas monumentais, que antecediam o pilone.
Nos templos do Império Novo é comum a existência de uma avenida de acesso ladeada por esfinges com corpo de leão e cabeça de carneiro (que se acreditava protegerem o templo e o deus), na qual desfilava a procissão em dias de festa.
Fileira de esfinges no
templo de Luxor.

Um pilone era uma porta monumental composta por duas torres em forma de trapézio, entre as quais se situava a entrada propriamente dita.
Nas paredes do pilone representavam-se as divindades ou muitas vezes a cena clássica na qual se vê o faraó a atacar os inimigos do Egipto.

Passado o pilone existia uma grande pátio (uba), a única zona acessível ao público, onde a estátua da Divindade era mostrada nos dias de festa.
O pátio era rodeado por colunas e possuía por vezes um altar (aba), onde se efectuavam os sacrifícios.

Este pátio precedia uma sala hipóstila (ou seja uma sala de colunas), mais ou menos imersa na escuridão, que antecedia outros salas onde se guardavam a mesa de oferendas e a barca sagrada.
Finalmente, achava-se o santuário do deus (kari). Se os faráos entedessem ampliar um templo construiam-se novas salas, átrios e pilones.

NILÔMETROS
POÇO OU LAGO SAGRADO
QUE HAVIA NO PÁTIO DE
ALGUNS TEMPLOS
Os templos mais importantes poderiam possuir um lago sagrado, nilômetros, Per Ankh Casas de Vida, armazéns e locais para a residência dos sacerdotes.

Teoricamente o rei egípcio tinha o dever de realizar a liturgia em cada templo.
Uma vez que era fisicamente impossível para o rei estar presente em todos os templos que existiam no Egito, o soberano nomeava representantes para realizar as cerimónias a Deus.
Os reis só visitavam os templos em ocasiões especiais associadas a festivais, o que não impede que sejam representados nos templos fazendo oferendas as Divindades.

A vida nos templos seguia o curso da vida normal.
Antes do nascer do sol, abatiam-se os animais que seriam oferecidos as Divindades.
Os sacerdotes purificavam-se com água e vestidos com trajes brancos entravam em procissão no templo.
No pátio do templo os sacerdotes apresentavam as suas oferendas e queimavam incenso.
Um sacerdote dirigia-se ao santuário da Divindade, uma sala especialmente consagrada, localizada na parte mais reservada do templo.
Ali o sacerdote acendia um archote e abria o naos, tabernáculo onde se guardava a estátua da Divindade.
O sacerdote apresentava-se a Divindade e anunciava vir cumprir os seus deveres.
Limpava o tabernáculo, queimava incenso, lavava a estátua e aplicava sobre ela óleos, vestia-a, maquilhava-a e colocava-lhe a coroa.
Terminado este processo o sacerdote coloca a estátua no naos, abandonando a sala apagando o archote e as pegadas que fez.
Ao meio-dia poderia ser feita uma nova cerimônia na qual se oferecia alimentos.
NAOS
ESPÉCIE DE ORATÓRIO
ONDE FICAVA A ESTÁTUA
DO DEUS A QUEM O
TEMPLO ERA DEDICADO

No Antigo Egipto não existiu uma estrutura sacerdotal centralizada; cada Divindade possuía um grupo de homens e mulheres dedicados ao seu culto.
O termo mais comum para designar um sacerdote em egípcio era hem-netjer, o que significa "Servo de Deus".

Não se sabe em que época da história egípcia se estruturou o grupo sacerdotal.
Na época do Império Antigo os sacerdotes não estavam ainda organizados em corpos fixos como sucederá no Império Novo.
De acordo com os Textos das Pirâmides, datados do Império Antigo, os reis tinham cinco refeições diariamente, três no céu e duas na terra; estas últimas estavam a cargo dos sacerdotes funerários.

As fontes do Império Novo mostram que os sacerdotes estavam organizados em quatro grupos (em grego: phyles), cada um dos quais trabalhava durante um mês cada três meses.
Durante os oito meses que tinham livres, os sacerdotes levavam uma vida comum inserida na comunidade, junto das suas esposas e filhos.

O clero egípcio estava estruturado de forma hierárquica. O rei era em teoria o líder de todos os cultos egípcios, mas como já foi referido este delegava o seu poder a outro homem devidamente preparado por Deus, o Sumo Sacerdote, que na hierarquia era seguido do segundo sacerdote, por sua vez seguido do terceiro e quartos sacerdote. O grupo seguinte era o dos "pais divinos" e dos "puros". Existiam também os sacerdotes leitores, os que calculavam o momento ideal para realizar um determinada cerimónia através da observação do sol ("horólogos") e os que determinavam os dias fastos e nefastos ("horóscopos"). Finalmente, pode distinguir-se um grupo dedicado aos serviços de manutenção do templo (imiu-seté).

As mulheres também trabalhavam nos templos seguindo o mesmo regime de rotatividade dos homens. Frequentemente estas mulheres eram esposas dos sacerdotes. As mulheres poderiam ser cantoras (chemait), músicas (hesit) ou dançarinas (khebait). Durante o Império Antigo e o Império Novo muitas mulheres da classe abastada serviram a deusa Hathor. No culto de Amon o cargo mais importante ocupado por mulheres era o de "Adoradora Divina". As mulheres que ocuparam este cargo foram filhas ou irmãs do faraó governante.

sábado, 14 de abril de 2012

ORGANIZAÇÃO E HIERARQUIA DOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS

África

Ogún 
ORIXÁ CULTUADO
ORIGINALMENTE
EM 
Ekiti e Ondo,
NA ÁFRICA
Na África cada orixá estava ligado a uma cidade ou a uma nação inteira; tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais.

Sàngó em Oyo, Yemoja na região de Egbá, Iyewa em Egbado, Ogún em Ekiti e Ondo, Òsun em Ilesa, Osogbo e Ijebu Ode, Erinlé em Ilobu, Lógunnède em Ilesa, Otin em Inisa, Osàálà-Obàtálá em Ifé, Osàlúfon em Ifon e Òságiyan em Ejigbo.

A realização das cerimônias de adoração ao Òrìsá é assegurada pelos sacerdotes designados para tal em sua tribo ou cidade

Brasil

No Brasil, existe uma divisão nos cultos: Ifá, Egungun, Orixá, Vodun e Nkisi, são separados pelo tipo de iniciação sacerdotal.

O culto de Ifá só inicia Babalawos, não entram em transe.

O culto aos Egungun só inicia Babaojés, não entram em transe.

O Candomblé Ketu inicia Iaôs, entram em transe com Orixá.

O Candomblé Jeje inicia Vodunsis, entram em transe com Vodun.

O Candomblé Bantu inicia Muzenzas, entram em transe com Nkisi.

PANTEON DOS ORIXÁS
AFRICANOS



As palavras Orixá, Vodun e Nkisi exprimem basicamente o mesmo conceito e se referem as entidaes cultuadas, comumente chamadas "santos", sendo que ada desgninação pertence a um determinado tipo de culto. Das três, orixá é a denominação mais comum e generalizada, enquanto em algumas casas as outras palavras passaram a designar, as vezes, conceitos dferentes.

Em cada templo religioso são cultuados todos os orixás.

Havendo na casa espaço físico para tanto, é costume que cada Orixá tenha sua casa, na verdade, um quarto separado onde ficam os objetos pertinentes ao culto de cada orixá.


QUARTO DE ORIXÁ
Contudo, é cada vez mais comum o uso de apenas um quarto onde se cultuam juntos todos os orixás, com exceção de alguns poucos que devem ter suas casas obrigatoriamente separadas.

Esse quarto geralmente recebe a designação de roncó ou roncol.

Também deve se ter um quarto destinado à iniciação dos fiéis, que geralmente recebe a denominação de sabagí na maioria das casas, mas em alguns cultos é chamado de camarinha, pois nesses casos diz-se que quando alguém está passando pela iniciação, ele está fazendo a camarinha, e por extensão esse termo passou a denominar também o quarto onde isso acontece.
 A RASPAGEM DE CABEÇA É UM DOS ATOS DE
INICIAÇÃO QUE OCORREM NA MAIORIA DAS
CASAS DE CULTOS AFRO-BRASILEIRTOS




Alguns orixás são só assentados no templo para serem cultuados pela comunidade, mas não dão incorporação, como por exemplo, Odudua, Oranian, Olokun, Iyami-Ajé.

Os responsáveis pela iniciação dos Iaôs e pelo culto de todo e qualquer orixá assentado no templo são a Iyalorixá, se for mulher, ou o Babalorixá, se for homem, popularmente conhecidos como Pai e Mãe de santo. Esses são os que têm a função sacerdotal dentro do culto, são as maiores autoridades dentro de uma casa, também chamados de zeladores de santo, pois cabe a eles a obrigação de zelar pelo santo e pelos iniciados.

Santo é a designação popular das entidades cultuadas, por assimilação as tradições católicas que exerceram grande influência, aqui no Brasil, nos cultos de origem africana, já que o escravo em geral era proibido de praticar sua religião, em parte por que os seus senhores temiam esse culto, julgando-o como prática de feitiçaria, em parte na tentativa de canonizar o escravo e convertê-lo, a força, à fé cristã.

Repetia-se assim, em terras brasileiras, num passado ainda nem tão distante, o mesmo fenômeno de séculos atrás quando na Europa o cristianismo procurava suprimir, às vezes pelo uso da força e da violência, as antigas religiões hoje tidas com religiões pagãs, segundo a perspectiva do cristianismo.

Mas assim como em muitas partes do mundo muitas dessas antigas mitologias conseguiram sobreviver, também o culto africano não pode ser contido e persiste até os dias de hoje, embora tenha sofrido mudanças com a influência e a imposição cristãs.

EGUNGUN MANISFESTADO.
OS SEGUIDORES DESSE CULTO AFIRMAM QUE NÃO
HÁ MÉDIUNS ENCORPORADOS SOB ESSAS ROUPAS,
MAS QUE SÃO OS PRÓPRIOS EGUNS QUE ENTRAM
NELAS E AS FAZEM SE MOVIMENTAR.
Os "zeladores de santo", contudo, não são as únicas autoridades nas hierarquias dentro das casas de culto, há outros cargos e funções. A essas pessoas são dadas diferentes funções e a eles cabem auxiliar os pais e mães de santo em suas funções. Alguns desses cargos e funções possuem maior autoridade do que outros, alguns se equivalem em peso, autoridade e importância.

Há muitas diferenças de uma casa para outra, dependendo do tipo de culto que a casa pratica, nesses cargos, mas os mais comuns são:
Babaojé: Responsável pelo culto aos eguns. Tradicionalmente essa função é dada somente a homens, pois diz a tradição que os eguns não aceitam ser tratados por mulheres. Algumas casas, porém, já admitem que mulheres tenham essa função, desde que a exerçam "disfarçadas" de homem, ou seja, com roupas masculinas, para enganar os eguns.
No culto origial aos eguns, o Babaojé é o sacerdote supremo, não dá incorporação.
Nesses cultos, muito raros de se achar, os eguns não incorporam, mas se materializam, "preenchem" as roupas , vêm para o salão e se apresentam nos dias de festa, ou seja, não há médiuns enccorporados dentro das roupas, mas os próprios eguns. Esse culto é exercido exclusivmente por homens e as mulheresetem um papel muito limitado denro deles, nunca participando diretamete dos rituais internos.

Babalosaim: Responsável por colher e preparar as ervas e folhas.

Babakerê [para homem] e Yakerê [se for mulher]: Em algumas casas é o segundo em comando depois dos babalorixás e Yalorixas. São comumente chamados de Pai e Mãe-pequenos. Em outras casas essa função é dividida entre vários de seus membros, sendo que cada um fica responsável por zelar de um determinado número de iniciados, participando de tudo que diga respeito à iniciação de seus "protegidos", auxiliando o babalorixá. Nesse caso os Pai/Mãe-pequenos não tem autoridade sobre todos os filhos da casa, mas somente sobre aqueles que auxiliaram na iniciação. Em algumas casas quem exerce essa função junto aos iniciados recebem outra nomenclatura, são os padrinhos e madrinhas de santo, que tanto pode ser um membro mais antigo da casa, como uma figura ilustre convidada exclusivamente para esta função.

Ogãs: Comumente são chamados ogãs os que tocam os atabaques durante os cultos, mas na verdade ogã é uma designação comum a todos os iniciados homens que não tem o dom da incorporação. A eles são dadas diferentes funções, com diferentes designações, que variam muito de uma casa para outra. Os mais comuns, que geralmente encontram-se em todas as casas, são os alabês, cuja função especificamente é tocar para os santos, e os ashoguns, responsáveis pelos sacrifícios aos santos.
YABASSÉ

Ekédis: Essa função é destinada as mulheres que não incorporam. Gozam de grande privilégio dentro dos cultos, são auxiliares diretas dos zeladores e ajudam nas iniciações, na direção dos cultos nos dias de função, etc. Cada ekédy é consagrada a um determinado orixá, ao qual ela se torna responsável por cuidar e zelar.

Yabassé: Responsável por tudo que diga respeito à cozinha da casa, elas cozinham para todos da casa, para as festas, para os iniciados que estão recolhidos e para os orixás, as comidas rituais que são dadas como oferendas, enfim, tudo o que diga respeito à culinária dentro das casas de culto.

EXU, CUJA RESPONSABILIDADE POR
ZELAR PERTENCE AO DAGÃ
Alguns as consideram como um tipo ou qualidade de ekédy, outras casas aceitam que médiuns incorporativas exerçam essa função, mas é comum dar-se essa função as que não incorporam. Devido à natureza de sua função é um cargo destinado exclusivamente as mulheres.

Dagã - Responsável por cuidar e zelar de exu, desde a limpeza de sua casa até o culto propriamente dito. Tradicionalmente, mas não obrigatoriamente, essa função é dada aos filhos mais antigos da casa. Pode ser exercido por médiuns incorporativos ou não, de ambos os sexos.

Sidagã - Auxilia o dagã em suas funções e o substitui em caso de necessidade.

Babalawo - Responsável pelo culto a Ifá. Conhecem os segredos dos oráculos e "lêem os búzios". Tradicionalmente essa função era dada aos homens e somente as mulheres de Oxum poderiam ser iniciadas nessa função.
Atualmente, todos os zeladores, homens ou mulheres, dominam o jogo de búzios, mas os que são destinados exclusivamente a essa função geralmente não incorporam e sua comunicação com os orixás se dá através dos búzios. É cada vez mais raro encontrar-se esse tipo de sacerdote, pois o culto de ifá exige uma iniciação muito severa e demorada. Os zeladores comuns que deitam os búzios não os dominam completamente, mas somente seus fundamentos básicos, o suficiente para se comunicarem com as entidades, somente os babalawôs dominam toda a ciência por completo, mas é cada vez mais difícil encontrar quem esteja disposto a se submeter a esse tipo de iniciação, ou quem esteja capacitado para preparar novos iniciados.

Jibonã OU AGIBONÃ- Tem a função de tomar conta do iniciado quando ele está recolhido; É o jibonã que se responsabiliza pela alimentação do iniciado, lhe ensina e acompanha nas rezas rituais, lava sua roupa, dá-lhe os banhos rituais, cuida para que tenha sempre água fresca e fica sempre a sua disposição para atender-lhe em todas as suas necessidades.

Esses cargos e funções diferem muito de um tipo de culto para outro, alguns são exclusivos de uma determinada nação e não de outra, de forma que é possível apenas estabelecer um lugar comum entre todos eles, mas descrição nenhuma corresponderá à plena totalidade da realidade de todas as casas.

Os membros da casa, comumente conhecidos com filhos de santo, são chamados yawôs, quando já passaram pelo ritual de iniciação, e abiãs, quando ainda não tomaram suas obrigações. Salvo alguns cargos que são inatos, ou seja, a pessoa já nasce com essa função pré-determinada, como no caso de ogans e ekédys, as outras funções são determinadas pelo babalorixá segundo sua observação a respeito das potencialidades de seus yawôs ou tempo de iniciação, cabendo os cargos mais elevados aos mais antigos.